Resenha de Objetos Cortantes – Gillian Flynn

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Camille Preaker deixou a pequena Wind Gap – e todas as más lembranças que o local evoca – para trabalhar como jornalista em Chicago. No entanto, quando duas garotinhas desaparecem misteriosamente em sua cidade natal, ela é enviada para lá a fim de cobrir os desdobramentos dos crimes. Camille fica hospedada na mansão de sua família e passa a ser assombrada pelo passado marcado pela tragédia familiar, a mãe fria e distante e a automutilação. A presença de Amma, a perversa meia-irmã de 13 anos, também não ajuda a jornalista a manter a sanidade e, logo, a cobertura dos crimes se transforma em um verdadeiro resgate do próprio passado.

Confesso que minhas expectativas sobre Objetos Cortantes não poderiam ser mais altas, embora eu tenha tentado conter a animação pré-leitura. E não dá para dizer que me decepcionei, no entanto, também seria mentira dizer que minhas expectativas foram superadas. Mas, calma, não precisa ficar desanimado porque, na verdade, o livro de estreia de Gillian Flynn tem apenas dois defeitos: 1. o ritmo, um pouco arrastado, apesar de ter apenas 251 páginas; 2. e não ser Garota Exemplar.

Já sentiu que coisas ruins vão acontecer e que você não vai conseguir impedir? Não pode fazer nada, tem apenas que esperar?

Como li Garota Exemplar primeiro, é impossível não estabelecer um padrão (incrível e talvez insuperável) quando se trata de Gillian Flynn. A boa notícia é que Objetos Cortantes tem todas as características típicas da autora, como a acidez, a ironia, a crueldade, o mistério e as surpresas. Na obra, Gillian foi capaz de mesclar e fundir a história conturbada da protagonista com a dos crimes hediondos, e esse é o grande positivo do livro.

Apesar da temática sombria e pesada, Objetos Cortantes também propõe uma discussão sobre machismo e feminismo, ao mostrar o contraste entre a dinâmica familiar, muitas vezes limitada, das pequenas cidades dos Estados Unidos e a vida independente (mas, para muitos, solitária) de mulheres como Camille, que escolhem ir para a cidade grande.

Algumas vezes se você deixa as pessoas fazerem as coisas a você, na verdade você está fazendo a elas.

Com Garota Exemplar Objetos Cortantes, fica claro que uma obra assinada por Gillian Flynn jamais será previsível ou comum. Admito que pensei ter desvendado o mistério logo no início do livro, mas esqueci que a autora é altamente capaz de manipular o leitor e criar reviravoltas inimagináveis. E se Garota Exemplar é um thriller perfeito – doentio e surpreendente, de um jeito que chega a ser perversamente divertido -, Objetos Cortantes é cruel, macabro e assustador. Praticamente uma história de terror.

Título original: Sharp Objects
Editora: Intrínseca
Autor: Gillian Flynn
Publicação original: 2005

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6 comments

  1. Tô sentindo ele meio arrastado mesmo. Mas a curiosidade não diminuiu! E sim, achei as mortes super macabras… Ainda mais por se tratar de 2 crianças. Acho que termino de ler essa semana , daí volto aqui, hehe.

  2. É um livro indispensável, muito bom! Gillian Flynn tem o dom de ser uma escritora atual que consegue me convencer a ler seus livros através apenas da sinopse. Isso é um fato. O livro é bem escrito, todo em primeira pessoa e apresenta todos os acontecimentos e personagens sob a dimensão de Camille. A estrutura narrativa é bem montada, não sobra espaço para confusão e o desfecho é levemente deduzível, contudo até o último momento torcemos para que estejamos errados. Por outro lado a nova série Objetos cortantes estreou no domingo na HBO. Produção é inspirada em livro homônimo de Gillian Flynn. No primeiro episódio, Objetos cortantes vai aos poucos inserindo a história, que envolve tanto o mistério dos assassinatos quanto o mistério envolvendo o passado de Camille, uma mulher receosa da mãe, assombrada pelos fantasmas do passado que envolvem a morte de uma irmã, viciada em bebidas alcoólicas e também em automutilação. Mesmo assim, isso não torna a série lenta. Pelo contrário, ao entregar pouco, a produção faz com que o espectador queira seguir nessa história, que promete muitas reviravoltas. Visualmente, Objetos cortantes também é muito interessante. As cores extremamente fortes das cenas contrastam com a atmosfera de mistério que envolve a história. Outro ponto alto são os debates que a minissérie vai abordar como a relação entre mãe e a filha e, claro, a automutilação, algo que atormenta a vida da protagonista.

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